Português - 2º ano A

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O reflexo da escravidão na poesia de Castro Alves

Antônio Frederico de Castro Alves: homem que, apenas com uma pena e um papel, fazia o sentimento florir em qualquer tipo de ser humano.

A produção literária de Castro Alves revela um importante deslocamento em relação aos textos dos autores da 1ª e 2ª geração do Romantismo: o sentimento da natureza é substituído pelo da humanidade; a ordem do coração é trocada pela do pensamento. Essas duas marcas dão o traço distintivo de sua obra.Esse ícone da literatura romântica brasileira ficou conhecido como “poeta dos escravos”. O modo como lutava pelos direitos dos negros daquela época era incansável e encantador.

Quando se lê “Os escravos”, percebe-se que o “poeta condoreiro” tentou transmitir uma chuva de sentimentos, banhada com muitas figuras de linguagem e sinais de pontuação; com o intuito de emocionar o leitor. E conseguiu. Além do mais, foi Machado de Assis e José de Alencar que o receberam no Rio de Janeiro e o elogiaram pelo magnífico trabalho.

Castro Alves, em uma única obra, conseguia reunir vários instrumentos usados nos castigos impostos aos escravos, mostrando, para aqueles que ainda não sabiam, como os escravos eram torturados. O tronco foi um desses instrumentos e reuniu três características: instrumento de contenção - usado para prender -; instrumento de aviltamento - usado para humilhar - e instrumento de suplício - usado para infligir dor. Esse horrendo objeto despertava um sentimento de repugnância dos escravos aos seus próprios corpos, já que as necessidades fisiológicas eram feitas no local da punição.


As figuras mostram instrumentos de suplício, que causavam dores terríveis no escravo, principalmente na coluna.

No segundo plano da pintura acima, ocorre uma fiscalização severa da punição de um escravo.

(Pintura de Jean Baptiste Debret)

O castigo no pelourinho era muito humilhante porque os escravos eram obrigados a ficar nus e presos para receberem as chibatadas em locais públicos. O chicote era trocado à medida que ia se molhando de sangue e perdendo a eficácia de arrancar a carne. Os que sobrevivessem ao castigo iriam, para o resto da vida, portar a gonilha.

Gonilha é uma peia unida por um grilhão. Era utilizada no pescoço e em um pé, dificultando a locomoção. A haste tripla e tortuosa da gonilha era para dificultar a tentativa de fuga dos escravos.

Enfim, o talento de Castro Alves foi e sempre será avassalador. Marcando épocas, seus poemas irão se perpetuar por toda a história da literatura brasileira. Para confirmar tudo que foi dito sobre esse escritor tão consagrado, segue um poema maravilhoso do poeta.

Súplica
Antônio Frederico de Castro Alves

Senhor Deus, dá que a boca da inocência
Possa ao menos sorrir,
Como a flor da granada abrindo as pet'las
Da alvorada ao surgir.

Dá que um dedo de mãe aponte ao filho
O caminho dos céus,
E seus lábios derramem como pérolas
Dois nomes — filho e Deus.

Que a donzela não manche em leito impuro
A grinalda do amor.
Que a honra não se compre ao carniceiro
Que se chama senhor.

Dá que o brio não cortem como o cardo
Filho do coração.
Nem o chicote acorde o pobre escravo
A cada aspiração.

Insultam e desprezam da velhice
A coroa de cãs.
Ante os olhos do irmão em prostitutas
Transformam-se as irmãs.

A esposa é bela... Um dia o pobre escravo
Solitário acordou;
E o vício quebra e ri do nó perpétuo
Que a mão de Deus atou.

Do abismo em pego, de desonra em crime
Rola o mísero a sós.
Da lei sangrento o braço rasga as vísceras
Como o abutre feroz.

Vê!... A inocência, o amor, o brio, a honra,
E o velho no balcão.
Do berço à sepultura a infâmia escrita...
Senhor Deus! compaixão!...

Grupo: Izadora, Abgail, Felipe, Saulo, Marcelo.

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